domingo, 14 de outubro de 2012

Das iluminações.


[-Iluminações. Era disso que precisava. De pequenas epifanias. Daquelas que o faziam ver por cima de um problema X, uma situação ruim Y. Daquelas que lhe mostravam que talvez não fosse para tanto, que falavam pra não dar razão/vazão à alguma queixa outrora emudecida dentro do peito - não mais. Dessas iluminações que vêm do nada, numa tarde chuvosa em silêncio dentro do carro com amigos e Beirut tocando ao fundo, numa cidade distante com ares de Barroco - melhor dizendo, dessas iluminações que vêm da soma desses fatores acalentadores da alma. Dessas que, quando vinham, deixavam tudo fora de foco, para naquele momento existir somente ele mesmo, sua consciência, e a música que o levava para outro lugar além daquele espaço e tempo, para além daquela perspectiva soturna.]
Pensava ele, com as luzes da consciência em uso, com as luzes de pisca-pisca da vida sempre ligadas, com as luzes da imaginação voltadas para uma moça que dançava numa praça numa época distante, que girava, ou melhor, rodopiava, sem medo de viver e de ser vista, sem precisar de mais nada na vida a não ser estar ali, naquele momento, meio que congelada, meio que em loop, dando voltas e voltas de felicidade sobre si mesma - pois este era o motivo de sua existência na consciência dele. E, por que não, na dela?

♪ ...I'll sing of the walls of the well and the house at the top of the hill
I'll sing of the bottles of wine that we left on our old windowsill
I'll sing of the years you will spend getting sadder and older

Oh love, and the cold, the oncoming cold... ♫

domingo, 30 de setembro de 2012

Podia estar, sim, chovendo.


"Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo..."

Podia estar, sim, chovendo
Podia estar a noite, sim, caindo
Podia estar assim, o vento
Podia estar eu, sorrindo

Nessa noite de segunda-feira
Que, semana-a-semana,
como mosca varejeira
Insiste em trazer de volta meu desalento

Dessa morna vida,
desse dia-a-dia
Desses fantasmas da alegria
Dessa constante maresia.

Prá purificar a alma,
como incenso
Pra levar embora,
todo esse tormento...
Podia, sim, estar chovendo.

Lisieux Marc

sábado, 7 de julho de 2012

Boa Noite.

E ainda hoje sentia saudade
Daquele Boa Noite, cheio de mimos
que lhe fazia sentir que tudo na vida
tinha sentido,
que tudo daria certo
E que ele nunca estaria sozinho.

Boa Noite
que abarcava seu mundo
Que fazia dele sonho profundo
do qual nunca acordar queria.

Mas toda primavera
tinha seu período quente,
seu momento cinza
e seu balde d'água fria -
disso ele bem sabia.

E após tanto tempo
que aqueles Boa Noites se foram
O que ele queria mesmo
Era voltar a pisar flores de novo
A dar a mão pela planície primaveril.

Por esse dia anseava
em seu oceano azul,
em seu céu anil.

Por aquela maresia,
por aquele Bom Dia
por aquele frenesi

Que, ao despertar, lhe dizer faria:
-Meu mundo, moço?
É este daqui.


Lisieux Marc.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Extro-intro-versão

Ninguém liga
Ninguém fala
Ele cala


Ninguém avisa
Ninguém importa
Ele cala


Ninguém pergunta
Ninguém assunta
Ele cala


Ninguém deixa de falar
Ninguém deixa de importar
Ninguém deixa de ouvir
Ele repensa.


Ele fechado,
Ele calado...
Ele:
Errado.

sábado, 3 de março de 2012

Sou nau.

Sou nau que navega em mar aberto
Nau que navega por seu oceano predileto
Sou nau que navega pela vida
Buscando nela igualidra
Sou nau.

Nau que busca por um sentido
Por um lugar seguro, um motivo
Sou nau que pela vida anda perdida
Mas é esta perca, encontro.

De mundos e oceanos
De vidas e de planos
Da alegria de cada dia
Sou nau da vida.

Vida de enganos,
Erros mundanos.
Vida de maresia,
Fantasia.

Sou nau que navega pela vida
E que sabe que porto seguro
é onde quiser que seja.
Sou nau que pelas tempestades passa,
Esbraveja

Nau que resiste às águas quebrantadas
Às marés desenluaradas
Aos dias à deriva
Sou nau que companheiras naus tem,
Naus amigas.

Sou nau por tudo e sou nau por isso.
Sou nau sem aviso.
Sou nau num oceano de amor e de belezas
Sou nau. Tenho certeza.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Não, eu não sambo mais em vão.

E cantava em uníssono
com seu eu-lírico,
com seu eu interior:
tudo, tudo, tudo vai dar pé,
tudo tudo vai dar pé.

E nutria sua positividade,
porque isso era de sua personalidade.
E nada isso haveria de mudar
disso não deveria duvidar.

E jogava alegria,
Samba e folia
Para seu caminho alegrar
Para seu bloco passar:

Seus amigos a quem tanto valorizava,
a música a quem tanto amava,
os bons momentos aos quais tanto se dedicava,
sua alegria a qual tanto prezava.

Porque tudo, tudo vai dar pé...


♪ E quem se atreve a me dizer do que é feito o samba? Quem se atreve a me dizer... 

Divagações d'outro ano

E talvez ele fosse ao mesmo tempo seu equilíbrio e desequilíbrio, os quais perdeu e ao mesmo tempo recuperou quando ele se foi. Talvez ele não tivesse voltado a ser quem era, mas se transformado num ser com muito mais desequilíbrio. Talvez, talvez. E nesse sentido, se arrependia de ter pensado muito mais que ele era seu desequilíbrio...